sábado, 13 de junho de 2020


VENTOS EM CONTRA-MÃO

Vejo o mel de outrora nos teus olhos, o que realça a doçura do teu olhar. Nem sempre foi assim. Os trilhos que agora adornam o teu rosto, nunca foram afagados por mim. Ainda não existiam, no tempo em que o Inverno se tornou insuportável e a Primavera recusou regressar. Desde então já passaram tantos ventos e tantas tempestades, mas nenhum trouxe notícias tuas. Nem mesmo a calmaria, que um dia acabou por chegar, mas de ti disse que nada podia adiantar. Algo senti. Não sei se o que me entristeceu foi de ti nada saber, se saber que um dia de ti nasceu a coragem para escurecer a tela que eu pintei, especialmente para ti, com as minhas cores favoritas e que eu, maravilhada, dizia que me davam vida. Não eram as tuas cores, mas fazias questão de as admirar sempre que as usava, porque sentias que eu só pintava com o coração. E tinhas razão… Ninguém escolhia, nem combinava cores com tanta emoção e alegria. Eu sabia o que fazia e o que queria. E tu também. Tudo parecia tão bem! Mas de repente mudaste de rumo, de direção e não, não foi bonito. Nunca houve uma justificação, uma explicação. E um pedido de desculpa também não. Mas há o perdão, eu pratico e isso traz leveza ao coração. Só nós sabemos que o livro que disseste ter sido rasgado, não fui eu que o rasguei. Tu rasgaste e a mim incriminaste. Um mundo na tua mão e nada aproveitaste. Por teimosia, arrogância, incompetência ou cobardia? Há sempre alguém culpado pelos nossos erros, pelos nossos tombos e pelas nossas más escolhas….Nós mesmos. Assim como não ultrapassarmos o que nos é prejudicial e doloroso, também tem sempre um culpado…Nós mesmos. Nem sempre temos, ou estamos em condições de encontrar uma solução que nos satisfaça…é um facto. Mas isso não dá o direito de em vez de continuarmos à procura de soluções dignas, prefiramos perder tempo procurando um culpado. Podemos até transferir a culpa para alguém só para nos sentirmos melhor, mas a nossa paz nunca será plena e a nossa felicidade nunca brotará.
Vejo o mel de outrora nos teus olhos e já foram tantos os ventos e as tempestades, que acredito que o pior já tenha passado e que a doçura no teu olhar, que nem sempre esteve presente, tenha voltado para ficar.
E olhando os trilhos que adornam o teu rosto, os tais que eu nunca afaguei, sinto que o tempo voou, o vento soprou e a tempestade arrastou, apenas com o intuito de deslocar sonhos, aqueles que à partida, eles sabiam que num determinado lugar nunca se iriam realizar. Não chega querer, não chega amar... Quando os ventos não estão de feição, é preciso muito lutar!

Helena Santos.


Foto tirada de um site de livre utilização
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quinta-feira, 4 de junho de 2020